Fazia tempo que não aparecia um criança com medo da anestesia.Tem 10 anos. Até benzetacil a coitadinha já havia tomado. Tinha que tratar o canal do dente decíduo. Estava com dor havia uma semana.Na primeira consulta não deixou aplicar anestesia. Eu e a Sirlei usamos todos os recursos psicológicos ao alcance, alem das promessas de praxe, que seriam cumpridas, obviamente. O pai estava junto, e mesmo com toda a sua autoridade, não convenceu a danada a abrir a boca. Não forcei. Conversei com o pai que talvez fosse necessário usar outros procedimentos. O pai entendeu e concordou. Até ele perdeu a paciência com a teimosia dela.Na segunda consulta, o mesmo espetáculo. Tentei novamente convencê-la durante10 minutos. Quando eu me aproximava com a seringa, ela serrava os dentes e levava as mãos à boca. O pai estava presente e, assim como eu, estava ficando irritado com a filha. Dei um ultimato. Avisei a ela que se não deixasse por bem, ia por mal. E foi.O pai segurou as mãos e a mandíbula, mantendo-a aberta, forçando o dedo polegar nos incisivos, na altura dos lábios. Eu tive que segurar a cabeça, pois ela tentava de todos os modos impedir que eu a anestesiasse. Tentava virar a cabeça para tudo que é lado. Imagine toda a cena com ela aos berros, com se alguém estivesse sendo cruelmente espancado. Por duas vezes ela conseguiu se desvencilhar das mãos do pai e de mim.Na terceira tentativa, consegui anestesiá-la. Foi assim:Ela virou o rosto para o meu lado. O pai, rapidamente, com uma mão manteve a boca aberta, e com a outra, pressionou o rosto contra a cadeira, de modo que ela não conseguia mais se mexer. Tudo isso com o maior berreiro. Terminada a anestesia, o silencio se instalou na sala.Acabou o show. Ela ficou boazinha e eu abri o canal, finalmente.Voltou após 2 dias para eu fechar o canal e não me deu trabalho algum.
Nem parecia a mesma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário